Não existe show grátis


por David Dines

Em diferentes momentos da carreira, vários artistas optam por fazer shows com entrada gratuita, como maneira de fomentar público ao vivo e atingir novos ouvintes. No entanto, quando estamos falando de uma prática musical profissional, se o público não está pagando essa conta, alguém precisa pagar – e cabe ao artista avaliar estrategicamente o contexto e ver se vale a pena. Entenda:


O custo da realização de um evento tem muitas variáveis envolvidas, mas está diretamente relacionado à capacidade do espaço e à quantidade de público que comparece. Quando o público não paga ingresso, geralmente há três opções de quem arca com a realização: o estado, por meio de impostos, no caso de eventos subsidiados por incentivo à cultura ou contratados por instâncias do governo; uma empresa patrocinadora; ou o lucro do bar e de outras vendas no local. Isso não significa que apenas uma dessas vias assumirá por completo os custos do show, uma vez que entes diferentes podem investir ao mesmo tempo em proporções distintas.

Como quarta possibilidade, existe o próprio artista, mas, como estamos falando de uma atividade profissional, este é um trabalho pelo qual, idealmente, quem toca deveria ser pago, e não pagar. No entanto, se é isso o que está acontecendo e o artista está saindo momentaneamente no vermelho, é preciso entender que, para valer a pena, precisa ser um investimento consciente em sua estratégia de carreira, trazendo dividendos de outra forma a médio e longo prazo e complementando outras ações de expansão de alcance como artista.

Se o músico ou banda está começando sua carreira ou buscando ampliação de público em um território ou contexto novo, realizar eventos gratuitos pode ser um bom passo estratégico. No entanto, é bom fazer o cálculo e assumir o risco de maneira controlada, avaliando as especificidades junto aos potenciais parceiros e entendendo se é uma boa possibilidade de captação de novos fãs – além de entender se seu porte naquele mercado é compatível com o tamanho do evento que se busca realizar.

Construção de público é responsabilidade principal do artista profissional, e não dos realizadores de cada evento – ainda que possam ajudar em situações específicas. Para que essa retenção de ouvintes e fãs aconteça, é preciso atuar com consistência em todas as frentes, do show ao streaming. Não adianta o artista inflar seus números na busca de um percebido avanço no mercado de música – comprando plays nas plataformas, por exemplo – se ele não consegue trazer ouvintes ao seu show e fazer eventos que não fechem no vermelho. Sustentabilidade de carreira na música precisa levar em conta todas as frentes.

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